Hoje à noite, no HISTORY CHANNEL, irá passar o especial "Indiana Jones and the Ultimate Quest" (Indiana Jones e a Saga Final).
Descrição direto do site oficial:
Ao longo da história existiram objetos que têm chamado a atenção dos aventureiros. Houve até aqueles que dedicaram vidas inteiras à sua descoberta, e entre eles está Indiana Jones, professor de arqueologia e um especialista aventureiro que tomou parte em alguns dos mais importantes achados da história. Mas o Dr. Jones é um personagem fictício e por isso as pessoas pensam que os objetos que ele procura também são produto da imaginação de Hollywood. Será que existem na realidade estes objetos?
Quando: Segunda-feira, 26 de Maio de 2008
Horário: 21h (horário de Brasília)
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segunda-feira, 26 de maio de 2008
Lenda do Santo Graal é mera invenção da Idade Média, dizem especialistas
Ainda no clima "Indiana Jones":
por Reinaldo José Lopes (G1)
Até século 12, cálice da Santa Ceia não era famoso; poetas deram início à saga.
Trama de 'Código da Vinci' envolvendo Graal mistura fraudes e erros históricos.
A lenda do Santo Graal virou, nos últimos tempos, uma espécie de ímã para quase todo tipo de lixo cultural e teorias estapafúrdias. Por isso, é bom colocar as coisas em pratos limpos: o famoso objeto não tem absolutamente nada a ver com Maria Madalena, com os Cavaleiros Templários ou com a sociedade secreta fictícia conhecida como Priorado de Sião. E, aliás, o Graal também não tem nada a ver com Jesus Cristo.
A existência de um suposto cálice milagroso onde o sangue do Messias crucificado teria sido recolhido não passa de uma invenção do fim da Idade Média – uma história bolada pelo poeta mais famoso da Europa no século 12 e, desde então, aumentada por uma fieira de autores posteriores. A lenda do Graal fez muito sucesso em sua época simplesmente por juntar numa só trama as duas grandes paixões do público medieval: cavalaria e fé cristã. E foi sendo repaginada de acordo com as preocupações dos séculos posteriores – inclusive as teorias da conspiração tão populares no começo do século 21.
No princípio era a Ceia
Poucos historiadores hoje duvidam de que Jesus e seus apóstolos realmente celebraram uma ceia derradeira antes que Cristo fosse morto a mando das autoridades romanas e judaicas. Os Evangelhos narram como o grupo comeu pão e bebeu vinho durante a cerimônia. Sabemos até como era a bebida servida nessa época.
“Em todo o Mediterrâneo de então, ninguém bebia vinho puro, mas sim diluído em água”, conta Francisco Marshall, historiador da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). “É que, com as condições precárias de fabricação e preservação da bebida, ou o vinho era uma espécie de vinagre, uma coisa muito ruim, ou então algo muito forte”, diz Marshall. “O jeito, então, era diluí-lo e, se possível, colocar nele algumas ervas aromáticas para melhorar o sabor.”
Ainda quanto às condições materiais do suposto Graal, podemos dizer que Indiana Jones estava certo – ao menos num quesito. No filme “Indiana Jones e a Última Cruzada”, o arqueólogo escolhe “o cálice de um carpinteiro”, feito de madeira e de aparência humilde, como o verdadeiro Graal. De fato, judeus das camadas populares como Jesus provavelmente bebiam em recipientes feitos de cerâmica ou madeira. Pareciam simples cuias, como os oriundos da região de Qumran, no mar Morto, retratados no início desta reportagem.
No entanto, é muito pouco provável que os utensílios de mesa utilizados por Jesus e seus companheiros em sua refeição final juntos tenham sido preservados. Para começar, como afirma o próprio Novo Testamento, a sala onde a ceia aconteceu era alugada. Além disso, o hábito de guardar relíquias relacionadas a figuras religiosas importantes começou relativamente tarde entre os cristãos – cerca de um século após a morte de Jesus. Para os primeiros seguidores de Cristo, o importante não era preservar seus objetos pessoais, mas sim espalhar sua palavra.
Cálice exibido em Valência, na Espanha, como o usado na Santa Ceia; na verdade, parte do objeto data do começo da Idade Média e as alças foram adicionadas depois (Foto: Reprodução)
Quem conta um conto...
No entanto, conforma a nova religião evoluía, os fiéis sentiam faltas de descrições mais detalhadas da vida e da morte de Jesus, diante da narrativa muitas vezes lacônica dos Evangelhos canônicos (os quatro “oficiais” incluídos no Antigo Testamento). Surgiram então histórias tardias, de caráter popular, como o chamado Evangelho de Nicodemos, que data do fim do século 4 de nossa era.
A obra narra com mais detalhes como os nobres judeus José de Arimatéia e Nicodemos deram um enterro digno ao corpo de Jesus antes de sua ressurreição, e como um soldado romano chamado Longino feriu o tórax de Cristo com uma lança. Logo começaram a circular lendas sobre as relíquias do Sangue Santo – o sangue que José de Arimatéia e Nicodemos teriam recolhido do corpo de Jesus – e sobre a lança de Longino, dois elementos que voltariam na história do Santo Graal.
A pré-história da lenda estava mais ou menos nesse pé quando entrou em cena um escritor francês chamado Chrétien de Troyes. Ninguém sabe exatamente de onde Chrétien de Troyes tirou a inspiração para dar o passo seguinte no desenvolvimento da lenda, por volta do ano 1180. O poeta do norte da França já fazia sucesso com histórias sobre os cavaleiros da Távola Redonda, especialmente Lancelote, o mais valoroso deles. É então que ele decide escrever uma nova saga sobre Percival, um jovem nobre que perde o pai muito cedo e é criado longe da civilização pela mãe.
“Percival é uma espécie de bom selvagem, não sabe se comportar em sociedade por ter sido criado no meio da mata”, afirma José Rivair Macedo, especialista em história medieval da UFRGS. O rapaz encontra um grupo de cavaleiros na floresta e fica tão fascinado por eles que pede à mãe para se tornar cavaleiro também. Parte para o corte do rei Arthur, consegue seu desejo e parte pelo mundo em busca de aventuras.
“Uma coisa tão santa”
E é aí que o Graal finalmente entra em cena. Percival chega ao castelo de um nobre conhecido como Rei Pescador, onde ele presencia uma cerimônia que ficaria conhecida como a procissão do Graal: uma lança que sangra (alguém se lembrou da lança de Longino?) e “um graal” - a palavra é usada de modo genérico por Chrétien.
“A tradução mais correta para o português seria escudela”, diz Macedo, referindo-se a uma espécie de prato comprido e relativamente fundo – uma travessa, diríamos hoje – usada para servir peixes ou carnes. Ironia das ironias: o Graal original não é um cálice, mas um prato! Chrétien dá a atender que “o graal” carregava uma única hóstia, que servia de alimento para o pai do Rei Pescador, gravemente ferido.
Diversos eventos misteriosos fazem com que Percival deixe o castelo do Rei Pescador e encontre um eremita. O monge conta ao cavaleiro que o Graal é “uma coisa muito santa” (tante sainte chose, no dialeto francês medieval de Chrétien)... e a história termina aí, sem final. Há quem ache que Chrétien tenha morrido antes de concluí-la.
Foi justamente graças a essa ponta solta que a criatividade dos autores que vieram depois de Chrétien pode correr solta. Para o medievalista britânico Richard Barber, autor do livro “O Santo Graal – A História de Uma Lenda”, os autores juntaram o mistério do Graal de Chrétien com o Evangelho de Nicodemos e as imagens religiosas da época para sugerir que, na verdade, a “coisa muito santa” era o prato (ou o cálice) onde José de Arimatéia e Nicodemos teriam recolhido o sangue de Jesus.
Cavaleiro puro
Em parte graças aos personagens da Távola Redonda que agora faziam parte da história, a saga do Graal passou a fazer enorme sucesso. Nas cinco décadas depois da morte de Chrétien, surgiram 18 continuações da história de Percival, com vários autores diferentes. A maioria delas incluía um novo cavaleiro, Galahad, filho de Lancelote, um guerreiro casto e puro que se unia a Percival e a outros homens da Távola Redonda para encontrar o Graal. Com isso, eles seriam capazes de curar o pai ferido do Rei Pescador, salvando o reino dele da destruição, e encontrar a iluminação.
De acordo com Barber, embora as histórias incorporem alguns elementos da mitologia celta, seu pano de fundo é basicamente cristão. O Graal funciona como um símbolo da Eucaristia, o sacramento da transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo. Beber (ou comer) do objeto restaura a saúde do soberano ferido e, de quebra, leva Galahad direto para o Paraíso – exatamente os atributos que a doutrina da Eucaristia dá a esse sacramento.
O curioso é que, com a popularidade do Graal, várias igrejas da Europa passaram a reivindicar a posse do cálice usado por Cristo na Última Ceia. Dois exemplos estão em Valência, na Espanha, e Gênova, na Itália (em ambos os casos, o mais provável é que sejam objetos de origem árabe, fabricados no começo da Idade Média). Um objeto descoberto na Síria no começo do século 20, conhecido como cálice de Antioquia, chegou a ser considerado como o Graal original até se descobrir que ele não passava de uma lâmpada a óleo, também do começo da Idade Média.
Conhecido como "cálice de Antioquia" e também associado ao Santo Graal, este objeto na verdade é uma antiga lâmpada a óleo (Foto: Reprodução)
Código da bobagem
A lenda do Graal andou em baixa do fim do século 16 até o começo do século 19, quando um interesse renovado pela cultura da Idade Média surgiu no Ocidente. No entanto, sua máxima popularidade recente certamente se deve ao livro “O Código Da Vinci”, que afirma que o Santo Graal na verdade seria o sang real – o “sangue real” dos filhos de Jesus com Maria Madalena, que teriam migrado para a França no começo da Era Cristã e sido protegidos ao longo dos séculos pelo chamado Priorado de Sião.
Tudo isso não passa de um imenso engodo, usado pelo escritor americano Dan Brown (e outros antes dele) para aumentar a popularidade de seus livros. Primeiro, as evidências de que Jesus e Maria Madalena tenham casado e tido filhos são nulas (assim como as de uma suposta viagem dela para a França). O Priorado de Sião é uma fraude criada por um vigarista francês no século 20. E a expressão sang real é só uma leitura equivocada da expressão san greal, “Santo Graal”, por alguns escritores do século 15.
por Reinaldo José Lopes (G1)
Até século 12, cálice da Santa Ceia não era famoso; poetas deram início à saga.
Trama de 'Código da Vinci' envolvendo Graal mistura fraudes e erros históricos.

A existência de um suposto cálice milagroso onde o sangue do Messias crucificado teria sido recolhido não passa de uma invenção do fim da Idade Média – uma história bolada pelo poeta mais famoso da Europa no século 12 e, desde então, aumentada por uma fieira de autores posteriores. A lenda do Graal fez muito sucesso em sua época simplesmente por juntar numa só trama as duas grandes paixões do público medieval: cavalaria e fé cristã. E foi sendo repaginada de acordo com as preocupações dos séculos posteriores – inclusive as teorias da conspiração tão populares no começo do século 21.
No princípio era a Ceia
Poucos historiadores hoje duvidam de que Jesus e seus apóstolos realmente celebraram uma ceia derradeira antes que Cristo fosse morto a mando das autoridades romanas e judaicas. Os Evangelhos narram como o grupo comeu pão e bebeu vinho durante a cerimônia. Sabemos até como era a bebida servida nessa época.
“Em todo o Mediterrâneo de então, ninguém bebia vinho puro, mas sim diluído em água”, conta Francisco Marshall, historiador da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). “É que, com as condições precárias de fabricação e preservação da bebida, ou o vinho era uma espécie de vinagre, uma coisa muito ruim, ou então algo muito forte”, diz Marshall. “O jeito, então, era diluí-lo e, se possível, colocar nele algumas ervas aromáticas para melhorar o sabor.”
Ainda quanto às condições materiais do suposto Graal, podemos dizer que Indiana Jones estava certo – ao menos num quesito. No filme “Indiana Jones e a Última Cruzada”, o arqueólogo escolhe “o cálice de um carpinteiro”, feito de madeira e de aparência humilde, como o verdadeiro Graal. De fato, judeus das camadas populares como Jesus provavelmente bebiam em recipientes feitos de cerâmica ou madeira. Pareciam simples cuias, como os oriundos da região de Qumran, no mar Morto, retratados no início desta reportagem.
No entanto, é muito pouco provável que os utensílios de mesa utilizados por Jesus e seus companheiros em sua refeição final juntos tenham sido preservados. Para começar, como afirma o próprio Novo Testamento, a sala onde a ceia aconteceu era alugada. Além disso, o hábito de guardar relíquias relacionadas a figuras religiosas importantes começou relativamente tarde entre os cristãos – cerca de um século após a morte de Jesus. Para os primeiros seguidores de Cristo, o importante não era preservar seus objetos pessoais, mas sim espalhar sua palavra.

Quem conta um conto...
No entanto, conforma a nova religião evoluía, os fiéis sentiam faltas de descrições mais detalhadas da vida e da morte de Jesus, diante da narrativa muitas vezes lacônica dos Evangelhos canônicos (os quatro “oficiais” incluídos no Antigo Testamento). Surgiram então histórias tardias, de caráter popular, como o chamado Evangelho de Nicodemos, que data do fim do século 4 de nossa era.
A obra narra com mais detalhes como os nobres judeus José de Arimatéia e Nicodemos deram um enterro digno ao corpo de Jesus antes de sua ressurreição, e como um soldado romano chamado Longino feriu o tórax de Cristo com uma lança. Logo começaram a circular lendas sobre as relíquias do Sangue Santo – o sangue que José de Arimatéia e Nicodemos teriam recolhido do corpo de Jesus – e sobre a lança de Longino, dois elementos que voltariam na história do Santo Graal.
A pré-história da lenda estava mais ou menos nesse pé quando entrou em cena um escritor francês chamado Chrétien de Troyes. Ninguém sabe exatamente de onde Chrétien de Troyes tirou a inspiração para dar o passo seguinte no desenvolvimento da lenda, por volta do ano 1180. O poeta do norte da França já fazia sucesso com histórias sobre os cavaleiros da Távola Redonda, especialmente Lancelote, o mais valoroso deles. É então que ele decide escrever uma nova saga sobre Percival, um jovem nobre que perde o pai muito cedo e é criado longe da civilização pela mãe.
“Percival é uma espécie de bom selvagem, não sabe se comportar em sociedade por ter sido criado no meio da mata”, afirma José Rivair Macedo, especialista em história medieval da UFRGS. O rapaz encontra um grupo de cavaleiros na floresta e fica tão fascinado por eles que pede à mãe para se tornar cavaleiro também. Parte para o corte do rei Arthur, consegue seu desejo e parte pelo mundo em busca de aventuras.
“Uma coisa tão santa”
E é aí que o Graal finalmente entra em cena. Percival chega ao castelo de um nobre conhecido como Rei Pescador, onde ele presencia uma cerimônia que ficaria conhecida como a procissão do Graal: uma lança que sangra (alguém se lembrou da lança de Longino?) e “um graal” - a palavra é usada de modo genérico por Chrétien.
“A tradução mais correta para o português seria escudela”, diz Macedo, referindo-se a uma espécie de prato comprido e relativamente fundo – uma travessa, diríamos hoje – usada para servir peixes ou carnes. Ironia das ironias: o Graal original não é um cálice, mas um prato! Chrétien dá a atender que “o graal” carregava uma única hóstia, que servia de alimento para o pai do Rei Pescador, gravemente ferido.
Diversos eventos misteriosos fazem com que Percival deixe o castelo do Rei Pescador e encontre um eremita. O monge conta ao cavaleiro que o Graal é “uma coisa muito santa” (tante sainte chose, no dialeto francês medieval de Chrétien)... e a história termina aí, sem final. Há quem ache que Chrétien tenha morrido antes de concluí-la.
Foi justamente graças a essa ponta solta que a criatividade dos autores que vieram depois de Chrétien pode correr solta. Para o medievalista britânico Richard Barber, autor do livro “O Santo Graal – A História de Uma Lenda”, os autores juntaram o mistério do Graal de Chrétien com o Evangelho de Nicodemos e as imagens religiosas da época para sugerir que, na verdade, a “coisa muito santa” era o prato (ou o cálice) onde José de Arimatéia e Nicodemos teriam recolhido o sangue de Jesus.
Cavaleiro puro
Em parte graças aos personagens da Távola Redonda que agora faziam parte da história, a saga do Graal passou a fazer enorme sucesso. Nas cinco décadas depois da morte de Chrétien, surgiram 18 continuações da história de Percival, com vários autores diferentes. A maioria delas incluía um novo cavaleiro, Galahad, filho de Lancelote, um guerreiro casto e puro que se unia a Percival e a outros homens da Távola Redonda para encontrar o Graal. Com isso, eles seriam capazes de curar o pai ferido do Rei Pescador, salvando o reino dele da destruição, e encontrar a iluminação.
De acordo com Barber, embora as histórias incorporem alguns elementos da mitologia celta, seu pano de fundo é basicamente cristão. O Graal funciona como um símbolo da Eucaristia, o sacramento da transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo. Beber (ou comer) do objeto restaura a saúde do soberano ferido e, de quebra, leva Galahad direto para o Paraíso – exatamente os atributos que a doutrina da Eucaristia dá a esse sacramento.
O curioso é que, com a popularidade do Graal, várias igrejas da Europa passaram a reivindicar a posse do cálice usado por Cristo na Última Ceia. Dois exemplos estão em Valência, na Espanha, e Gênova, na Itália (em ambos os casos, o mais provável é que sejam objetos de origem árabe, fabricados no começo da Idade Média). Um objeto descoberto na Síria no começo do século 20, conhecido como cálice de Antioquia, chegou a ser considerado como o Graal original até se descobrir que ele não passava de uma lâmpada a óleo, também do começo da Idade Média.

Código da bobagem
A lenda do Graal andou em baixa do fim do século 16 até o começo do século 19, quando um interesse renovado pela cultura da Idade Média surgiu no Ocidente. No entanto, sua máxima popularidade recente certamente se deve ao livro “O Código Da Vinci”, que afirma que o Santo Graal na verdade seria o sang real – o “sangue real” dos filhos de Jesus com Maria Madalena, que teriam migrado para a França no começo da Era Cristã e sido protegidos ao longo dos séculos pelo chamado Priorado de Sião.
Tudo isso não passa de um imenso engodo, usado pelo escritor americano Dan Brown (e outros antes dele) para aumentar a popularidade de seus livros. Primeiro, as evidências de que Jesus e Maria Madalena tenham casado e tido filhos são nulas (assim como as de uma suposta viagem dela para a França). O Priorado de Sião é uma fraude criada por um vigarista francês no século 20. E a expressão sang real é só uma leitura equivocada da expressão san greal, “Santo Graal”, por alguns escritores do século 15.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
"Crânio de cristal" de Paris é falso, para a frustração de Indiana Jones
Ainda no clima "Semana Indiana Jones":
Direto do G1
Segundo cientistas, peça é falsificação da segunda metade do século 19.
Caveira de cristal está no centro da trama do novo filme de Indy no cinema.
A escultura de cristal asteca conhecida como "Crânio de Paris" e pertencente à coleção do Museu de Quai Branly é uma falsificação realizada no século 19, informaram cientistas, o que faz com que o diretor Steven Spielberg possa ter enviado Indiana Jones em busca de uma relíquia falsa.
Em 2007, o Museu de Quai Branly encarregou o Centro de Pesquisas dos Museus da França (C2RMF) de analisar a peça, cuja autenticidade é questionada há tempos.
A conclusão dos cientistas é que se trata de uma criação da segunda metade do século 19.
"A peça não é pré-colombiana, com certeza, apresenta indícios de abrasão realizados com ferramentas modernas", afirmaram Thomas Calligaro e Yvan Coquinot, do C2RMF.
Ao ser analisada mediante um acelerador de partículas, se observa nela uma "película hidratada" (camada de água que penetrou no quartzo), que data do século XIX.
Coincidindo com a estréia do filme "Indiana Jones and the kingdom of the crystal skull" (Indiana Jones e o reino do crânio de cristal), que será apresentada em maio no Festival de Cannes, o Museu de Quai Branly vai expor a peça a partir de 20 de maio, deixando claro que ainda não se sabe com certeza se é uma falsificação.
O Crânio de Paris, escultura de quartzo de grande pureza, com 11 cm de altura e 2,5 kg de peso, é uma das doze peças do mesmo tipo que se encontram espalhados pelo mundo.
Esses crânios de cristal apareceram no mercado de arte europeu no século XIX, apresentados como esculturas pré-colombinas, e provocaram uma curiosidade e um fascínio sem precedentes no mundo da arqueologia.
No total seriam doze em todo o mundo, o que falta saber é se a nova aventura de Indiana Jones não diz respeito à caveira de número 13, que existiria, segundo a lenda, e que, de acordo com o quarto filme da célebre saga de Spielberg, estaria mantida guardada sob sete chaves.
Ainda de acordo com a lenda, os 12 crânios corresponderiam aos 12 mundos habitados com vida humana. Os Itzas, vindos da Atlântida, os trouxeram à Terra e os entregaram aos homens, junto com seus conhecimentos.
No entanto, a Terra, o mais jovem dos mundos habitados por humanos, também teria um crânio, o décimo terceiro. Todos eles foram guardados em uma pirâmide sucessivamente pelos olmecas, maias e aztecas.
Estes teriam sido responsáveis pela disseminação, segundo a lenda que afirma que, caso reunidas, as 13 caveiras teriam poderes maravilhosos, inclusive o de parar o mundo, se alinhadas no último dia do calendário maia, em 12 de dezembro de habitaram 2012. Esta é uma lenda que tem tudo a ver com as proezas do doutor Jones, o arqueólogo aventureiro.
Mas a realidade científica está muito distante da lenda.
O Museu de Quai Branly também informa que outra caveira de cristal, a que pertence ao British Museum de Londres, foi submetida a uma série de analises em 1996 e 2004 e que, apesar das conclusões dessas análises não terem sido publicadas, se sabe que elas tendem ser falsificadas.
A peça em questão teria sido fabricada no sul da Alemanha entre 1867 e 1886 utilizando cristal de rocha brasileiro.
Direto do G1
Segundo cientistas, peça é falsificação da segunda metade do século 19.
Caveira de cristal está no centro da trama do novo filme de Indy no cinema.
A escultura de cristal asteca conhecida como "Crânio de Paris" e pertencente à coleção do Museu de Quai Branly é uma falsificação realizada no século 19, informaram cientistas, o que faz com que o diretor Steven Spielberg possa ter enviado Indiana Jones em busca de uma relíquia falsa.
Em 2007, o Museu de Quai Branly encarregou o Centro de Pesquisas dos Museus da França (C2RMF) de analisar a peça, cuja autenticidade é questionada há tempos.
A conclusão dos cientistas é que se trata de uma criação da segunda metade do século 19.
"A peça não é pré-colombiana, com certeza, apresenta indícios de abrasão realizados com ferramentas modernas", afirmaram Thomas Calligaro e Yvan Coquinot, do C2RMF.
Ao ser analisada mediante um acelerador de partículas, se observa nela uma "película hidratada" (camada de água que penetrou no quartzo), que data do século XIX.
Coincidindo com a estréia do filme "Indiana Jones and the kingdom of the crystal skull" (Indiana Jones e o reino do crânio de cristal), que será apresentada em maio no Festival de Cannes, o Museu de Quai Branly vai expor a peça a partir de 20 de maio, deixando claro que ainda não se sabe com certeza se é uma falsificação.
O Crânio de Paris, escultura de quartzo de grande pureza, com 11 cm de altura e 2,5 kg de peso, é uma das doze peças do mesmo tipo que se encontram espalhados pelo mundo.
Esses crânios de cristal apareceram no mercado de arte europeu no século XIX, apresentados como esculturas pré-colombinas, e provocaram uma curiosidade e um fascínio sem precedentes no mundo da arqueologia.
No total seriam doze em todo o mundo, o que falta saber é se a nova aventura de Indiana Jones não diz respeito à caveira de número 13, que existiria, segundo a lenda, e que, de acordo com o quarto filme da célebre saga de Spielberg, estaria mantida guardada sob sete chaves.
Ainda de acordo com a lenda, os 12 crânios corresponderiam aos 12 mundos habitados com vida humana. Os Itzas, vindos da Atlântida, os trouxeram à Terra e os entregaram aos homens, junto com seus conhecimentos.
No entanto, a Terra, o mais jovem dos mundos habitados por humanos, também teria um crânio, o décimo terceiro. Todos eles foram guardados em uma pirâmide sucessivamente pelos olmecas, maias e aztecas.
Estes teriam sido responsáveis pela disseminação, segundo a lenda que afirma que, caso reunidas, as 13 caveiras teriam poderes maravilhosos, inclusive o de parar o mundo, se alinhadas no último dia do calendário maia, em 12 de dezembro de habitaram 2012. Esta é uma lenda que tem tudo a ver com as proezas do doutor Jones, o arqueólogo aventureiro.
Mas a realidade científica está muito distante da lenda.
O Museu de Quai Branly também informa que outra caveira de cristal, a que pertence ao British Museum de Londres, foi submetida a uma série de analises em 1996 e 2004 e que, apesar das conclusões dessas análises não terem sido publicadas, se sabe que elas tendem ser falsificadas.
A peça em questão teria sido fabricada no sul da Alemanha entre 1867 e 1886 utilizando cristal de rocha brasileiro.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Vilões de 'Indiana Jones e o Templo da Perdição' eram seita real de assassinos
Ainda no clima "Indiana Jones"...
por Reinaldo José Lopes (G1)
Eles não comiam cérebro de macaco nem desenvolveram técnicas para arrancar o coração da vítima ainda batendo, mas os thuggees, vilões do filme "Indiana Jones e o Templo da Perdição", realmente aterrorizaram a Índia durante séculos. E são motivo de um ferrenho debate acadêmico entre os historiadores: seriam meros latrocidas, assassinos focados inteiramente no lucro, ou uma seita fanática?

Apesar do ambiente fantasioso, a segunda aventura do arqueólogo vivido por Harrison Ford até que menciona algumas informações historicamente confiáveis sobre os thuggees (algo como "ladrão" ou "pilantra" em hindi). Ao chegar a um palácio indiano nos anos 1930, época em que os britânicos governavam a região, Indy e sua trupe ouvem rumores de que os thuggees teriam voltado a agir, embora o grupo de bandidos tivesse sido oficialmente eliminado por volta de 1870.
De fato, no começo do século 19, a vilania dos thuggees se tornou legendária no Império Britânico. Eles chegaram até a ser incorporados ao vocabulário da língua inglesa, inspirando a palavra thug, muito utilizada hoje para designar capangas ou bandidos violentos de baixa extração.
Origens antigas
Mas o grupo, ao que tudo indica, surgiu muito antes do Raj britânico (nome dado ao domínio do Reino Unido na Índia). Crônicas medievais do século 14 falam dos assassinatos praticados pelos thuggees e do fato de que um sultão indiano os expulsou de seu território, sem, no entanto, prendê-los. A partir daí, acredita-se que os thuggees tenham agido de forma relativamente impune durante séculos.
A técnica de latrocínio do grupo envolvia ganhar a confiança de viajantes incautos e acompanhá-los por dezenas ou até centenas de quilômetros, até o momento favorável para o ataque. Os viajantes eram, então, estrangulados com lenços ou guardas, despojados de todos os seus pertences e enterrados em locais secretos.
E é aí que começa a polêmica. Vários relatos se referem ao uso que os thuggees faziam de certos rituais religiosos específicos durante seus crimes. Os principais envolviam a consagração da picareta usada para escavar os túmulos das vítimas, bem como o sacrifício de torrões de açúcar não-refinado, à deusa hindu Kali (também citada na aventura de Indiana Jones).

Divindade feroz
Em muitas tradições do antigo hinduísmo, Kali é retratada como uma deusa ferocíssima, associada à morte e à violência. Ela carrega um colar de cabeças decapitadas e, em algumas pinturas, aparece dançando sobre o cadáver de seu próprio marido, Shiva.
Durante o domínio britânico, muitos tendiam a atribuir os assassinatos em série cometidos pelos thuggees a uma espécie de devoção fanática por Kali. Alguns historiadores modernos aceitam o elemento religioso na formação dos thuggees, mas dizem que há poucas diferenças práticas entre as crenças deles e as populações que predavam. Outros, no entanto, apontam o fato de que a "profissão" de thuggee passava geralmente de pai para filho, ou lembram que era só era possível "aprendê-la" com um guru -- traços de uma espécie de dever religioso.
De qualquer maneira, a fé em Kali não ajudou muito os thuggees quando o poderio do Raj britânico se voltou contra eles. Ao longo dos anos 1830, o funcionário britânico William Sleeman conduziu a primeira grande investigação criminal contra o grupo. Mais de 3.000 thuggees foram presos, sendo executados ou exilados. Membros da própria seita foram usados como informantes -- entre eles Behram, considerado o maior serial killer da história, com mais de 900 mortes na sua ficha.
por Reinaldo José Lopes (G1)
Eles não comiam cérebro de macaco nem desenvolveram técnicas para arrancar o coração da vítima ainda batendo, mas os thuggees, vilões do filme "Indiana Jones e o Templo da Perdição", realmente aterrorizaram a Índia durante séculos. E são motivo de um ferrenho debate acadêmico entre os historiadores: seriam meros latrocidas, assassinos focados inteiramente no lucro, ou uma seita fanática?

Apesar do ambiente fantasioso, a segunda aventura do arqueólogo vivido por Harrison Ford até que menciona algumas informações historicamente confiáveis sobre os thuggees (algo como "ladrão" ou "pilantra" em hindi). Ao chegar a um palácio indiano nos anos 1930, época em que os britânicos governavam a região, Indy e sua trupe ouvem rumores de que os thuggees teriam voltado a agir, embora o grupo de bandidos tivesse sido oficialmente eliminado por volta de 1870.
De fato, no começo do século 19, a vilania dos thuggees se tornou legendária no Império Britânico. Eles chegaram até a ser incorporados ao vocabulário da língua inglesa, inspirando a palavra thug, muito utilizada hoje para designar capangas ou bandidos violentos de baixa extração.
Origens antigas
Mas o grupo, ao que tudo indica, surgiu muito antes do Raj britânico (nome dado ao domínio do Reino Unido na Índia). Crônicas medievais do século 14 falam dos assassinatos praticados pelos thuggees e do fato de que um sultão indiano os expulsou de seu território, sem, no entanto, prendê-los. A partir daí, acredita-se que os thuggees tenham agido de forma relativamente impune durante séculos.
A técnica de latrocínio do grupo envolvia ganhar a confiança de viajantes incautos e acompanhá-los por dezenas ou até centenas de quilômetros, até o momento favorável para o ataque. Os viajantes eram, então, estrangulados com lenços ou guardas, despojados de todos os seus pertences e enterrados em locais secretos.
E é aí que começa a polêmica. Vários relatos se referem ao uso que os thuggees faziam de certos rituais religiosos específicos durante seus crimes. Os principais envolviam a consagração da picareta usada para escavar os túmulos das vítimas, bem como o sacrifício de torrões de açúcar não-refinado, à deusa hindu Kali (também citada na aventura de Indiana Jones).

Divindade feroz
Em muitas tradições do antigo hinduísmo, Kali é retratada como uma deusa ferocíssima, associada à morte e à violência. Ela carrega um colar de cabeças decapitadas e, em algumas pinturas, aparece dançando sobre o cadáver de seu próprio marido, Shiva.
Durante o domínio britânico, muitos tendiam a atribuir os assassinatos em série cometidos pelos thuggees a uma espécie de devoção fanática por Kali. Alguns historiadores modernos aceitam o elemento religioso na formação dos thuggees, mas dizem que há poucas diferenças práticas entre as crenças deles e as populações que predavam. Outros, no entanto, apontam o fato de que a "profissão" de thuggee passava geralmente de pai para filho, ou lembram que era só era possível "aprendê-la" com um guru -- traços de uma espécie de dever religioso.
De qualquer maneira, a fé em Kali não ajudou muito os thuggees quando o poderio do Raj britânico se voltou contra eles. Ao longo dos anos 1830, o funcionário britânico William Sleeman conduziu a primeira grande investigação criminal contra o grupo. Mais de 3.000 thuggees foram presos, sendo executados ou exilados. Membros da própria seita foram usados como informantes -- entre eles Behram, considerado o maior serial killer da história, com mais de 900 mortes na sua ficha.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Conheça a verdadeira 'cara' da Arca da Aliança, objeto mais sagrado da Bíblia
Continuando a "Semana Indiana Jones"...
Decoração com querubins, monstros que lembram esfinges, indica passado pagão israelita. Abrigar Arca em tenda também liga culto a El, divindade adorada por antigos cananeus.
Por Reinaldo José Lopes (G1)
Tanto na Bíblia quanto nos filmes da série "Indiana Jones", a Arca da Aliança é o símbolo supremo do poder do Deus de Israel, derrubando as muralhas das cidades inimigas, causando epidemias entre povos pagãos e fulminando os mortais que ousam tocá-la (sem falar nos nazistas que querem usar o artefato para seus fins malignos). Os historiadores e arqueólogos modernos ainda não conseguiram determinar o paradeiro da Arca, se é que o objeto ainda existe, mas a grande ironia é que, ao que tudo indica, o artefato incorporava características originalmente pagãs, da época em que os israelitas não adoravam um deus único.
"A Arca parece ter tido sua origem nos amuletos protetores parecidos com caixas usados até hoje por algumas tribos de beduínos. Colocadas em cima de camelos, essas caixas são a vanguarda das migrações deles, da mesma maneira como se descreve a Arca liderando os israelitas no deserto", escreve Stephen A. Geller, professor de estudos bíblicos do Seminário Teológico Judaico de Nova York.
De fato, embora a Arca da Aliança fosse totalmente coberta de ouro, conforme diz o livro do Êxodo, no Antigo Testamento, trata-se de um objeto cultual relativamente simples, típico de um povo nômade. As descrições falam numa caixa de 1,25 m de comprimento por 0,75 m de altura e largura, na qual eram encaixadas duas varas, também cobertas de ouro, usadas para transportá-la -- tocar a Arca, ou mesmo vê-la ao ar livre, era um tabu muito sério entre os israelitas.
'Arquivo' e 'morada'
Ainda de acordo com o Êxodo, a Arca foi construída para cumprir dois objetivos principais. Em primeiro lugar, no interior dela foram colocadas as duas Tábuas da Lei -- os blocos de pedra onde o próprio Deus -- ou então Moisés; o texto bíblico é ambíguo --teria gravado os Dez Mandamentos. (Tradições posteriores falam de outros objetos dentro da Arca, como um vaso com o misterioso maná que alimentou os israelitas no deserto, mas tais histórias não são mencionadas pelo Antigo Testamento.)
E a Arca também foi colocada na parte mais sagrada do Tabernáculo, espécie de templo móvel em forma de tenda, carregado pelos israelitas durante suas andanças no deserto. Nessa parte do Tabernáculo, o chamado Santo dos Santos, só o sumo sacerdote podia entrar, e ainda assim uma vez por ano, no chamado Yom Kippur, ou Dia do Perdão.
A presença de Arca servia quase como o elo direto entre Deus e os israelitas, o ponto focal onde a presença divina se fazia sentir. Ela era carregada sempre coberta, mas sua presença animava os guerreiros de Israel durante batalhas e realizava milagres como abrir as águas do rio Jordão para que o povo entrasse na Terra Prometida.
Querubins
O detalhe mais significativo do objeto para os estudiosos modernos, porém, talvez seja o de dois personagens misteriosos cujas imagens encimavam a tampa da Arca. São os dois querubins -- criaturas que, na tradição posterior, são retratados como anjos, mas que na verdade lembram mais esfinges, com corpo de leão ou touro, asas de águia e cabeça humana, como se pode ver na fotografia abaixo.

"São imagens muito comuns como protetores da realeza nas culturas vizinhas de Israel, como o Egito e a Mesopotâmia", explica Haroldo Reimer, do Departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás. "Mais tarde, quando o Templo de Salomão é construído em Jerusalém, você tem estátuas soltas desses querubins, além dos que aparecem na própria Arca."
Os querubins da Arca da Aliança estão voltados um de frente para o outro, com as asas estendidas para a frente. A idéia é retratar as asas das criaturas como o trono onde Deus está sentado, enquanto a tampa da Arca é o estrado onde a divindade apóia seus pés. Para Reimer, a imagem dessas divindades menores sugere que, durante muito tempo, os israelitas não foram monoteístas (adoradores de um único deus).
"Parece que a tendência ao aniconismo [ou seja, a não fazer imagens divinas] é uma coisa que veio mais tarde, por volta dos séculos 8 a.C. ou 7 a.C.", afirma ele. "Antes disso, a prática do politeísmo [adoração a vários deuses] no Templo de Jerusalém deve ter acontecido normalmente."
O próprio Tabernáculo dá indicações da associação do culto israelita com deuses dos cananeus, moradores politeístas da região que se tornaria Israel. "O principal deus cananeu, El, era retratado como morando numa tenda, no alto de uma montanha", afirma Christine Hayes, professora de Bíblia Hebraica da Universidade Yale (EUA). É uma imagem que lembra um bocado Javé, o qual ordena a construção do Tabernáculo e fala com Moisés no monte Sinai.
Paradeiro desconhecido
O paradeiro da Arca não é conhecido desde pelo menos o ano 587 a.C., quando os babilônios, comandados pelo rei Nabucodonosor, conquistaram Jerusalém e destruíram o Templo, em cujo Santo dos Santos o objeto era abrigado. Surgiram inúmeras lendas: o profeta Jeremias teria escondido a Arca no Monte Nebo, na atual Jordânia; ou o objeto até teria sido levado para a Etiópia por Menelik I, suposto filho do rei Salomão e a soberana etíope conhecida como Rainha de Sabá.
"O que sabemos é que esse tipo de objeto, oriundo dos templos de nações conquistadas, eram levados embora pelos conquistadores", afirma Reimer. Não dá para saber se, por exemplo, o ouro teria sido reaproveitado pelos babilonios, enquanto a Arca em si teria sido destruída. Reimer sugere cautela sobre o excesso de ceticismo nesse aspecto. "A arqueologia já descobriu indícios de objetos considerados lendários antes. Eu não descartaria que uma bela arca dourada fosse encontrada algum dia."
Decoração com querubins, monstros que lembram esfinges, indica passado pagão israelita. Abrigar Arca em tenda também liga culto a El, divindade adorada por antigos cananeus.
Por Reinaldo José Lopes (G1)
Tanto na Bíblia quanto nos filmes da série "Indiana Jones", a Arca da Aliança é o símbolo supremo do poder do Deus de Israel, derrubando as muralhas das cidades inimigas, causando epidemias entre povos pagãos e fulminando os mortais que ousam tocá-la (sem falar nos nazistas que querem usar o artefato para seus fins malignos). Os historiadores e arqueólogos modernos ainda não conseguiram determinar o paradeiro da Arca, se é que o objeto ainda existe, mas a grande ironia é que, ao que tudo indica, o artefato incorporava características originalmente pagãs, da época em que os israelitas não adoravam um deus único.
"A Arca parece ter tido sua origem nos amuletos protetores parecidos com caixas usados até hoje por algumas tribos de beduínos. Colocadas em cima de camelos, essas caixas são a vanguarda das migrações deles, da mesma maneira como se descreve a Arca liderando os israelitas no deserto", escreve Stephen A. Geller, professor de estudos bíblicos do Seminário Teológico Judaico de Nova York.
De fato, embora a Arca da Aliança fosse totalmente coberta de ouro, conforme diz o livro do Êxodo, no Antigo Testamento, trata-se de um objeto cultual relativamente simples, típico de um povo nômade. As descrições falam numa caixa de 1,25 m de comprimento por 0,75 m de altura e largura, na qual eram encaixadas duas varas, também cobertas de ouro, usadas para transportá-la -- tocar a Arca, ou mesmo vê-la ao ar livre, era um tabu muito sério entre os israelitas.
'Arquivo' e 'morada'
Ainda de acordo com o Êxodo, a Arca foi construída para cumprir dois objetivos principais. Em primeiro lugar, no interior dela foram colocadas as duas Tábuas da Lei -- os blocos de pedra onde o próprio Deus -- ou então Moisés; o texto bíblico é ambíguo --teria gravado os Dez Mandamentos. (Tradições posteriores falam de outros objetos dentro da Arca, como um vaso com o misterioso maná que alimentou os israelitas no deserto, mas tais histórias não são mencionadas pelo Antigo Testamento.)
E a Arca também foi colocada na parte mais sagrada do Tabernáculo, espécie de templo móvel em forma de tenda, carregado pelos israelitas durante suas andanças no deserto. Nessa parte do Tabernáculo, o chamado Santo dos Santos, só o sumo sacerdote podia entrar, e ainda assim uma vez por ano, no chamado Yom Kippur, ou Dia do Perdão.
A presença de Arca servia quase como o elo direto entre Deus e os israelitas, o ponto focal onde a presença divina se fazia sentir. Ela era carregada sempre coberta, mas sua presença animava os guerreiros de Israel durante batalhas e realizava milagres como abrir as águas do rio Jordão para que o povo entrasse na Terra Prometida.
Querubins
O detalhe mais significativo do objeto para os estudiosos modernos, porém, talvez seja o de dois personagens misteriosos cujas imagens encimavam a tampa da Arca. São os dois querubins -- criaturas que, na tradição posterior, são retratados como anjos, mas que na verdade lembram mais esfinges, com corpo de leão ou touro, asas de águia e cabeça humana, como se pode ver na fotografia abaixo.

"São imagens muito comuns como protetores da realeza nas culturas vizinhas de Israel, como o Egito e a Mesopotâmia", explica Haroldo Reimer, do Departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás. "Mais tarde, quando o Templo de Salomão é construído em Jerusalém, você tem estátuas soltas desses querubins, além dos que aparecem na própria Arca."
Os querubins da Arca da Aliança estão voltados um de frente para o outro, com as asas estendidas para a frente. A idéia é retratar as asas das criaturas como o trono onde Deus está sentado, enquanto a tampa da Arca é o estrado onde a divindade apóia seus pés. Para Reimer, a imagem dessas divindades menores sugere que, durante muito tempo, os israelitas não foram monoteístas (adoradores de um único deus).
"Parece que a tendência ao aniconismo [ou seja, a não fazer imagens divinas] é uma coisa que veio mais tarde, por volta dos séculos 8 a.C. ou 7 a.C.", afirma ele. "Antes disso, a prática do politeísmo [adoração a vários deuses] no Templo de Jerusalém deve ter acontecido normalmente."
O próprio Tabernáculo dá indicações da associação do culto israelita com deuses dos cananeus, moradores politeístas da região que se tornaria Israel. "O principal deus cananeu, El, era retratado como morando numa tenda, no alto de uma montanha", afirma Christine Hayes, professora de Bíblia Hebraica da Universidade Yale (EUA). É uma imagem que lembra um bocado Javé, o qual ordena a construção do Tabernáculo e fala com Moisés no monte Sinai.
Paradeiro desconhecido
O paradeiro da Arca não é conhecido desde pelo menos o ano 587 a.C., quando os babilônios, comandados pelo rei Nabucodonosor, conquistaram Jerusalém e destruíram o Templo, em cujo Santo dos Santos o objeto era abrigado. Surgiram inúmeras lendas: o profeta Jeremias teria escondido a Arca no Monte Nebo, na atual Jordânia; ou o objeto até teria sido levado para a Etiópia por Menelik I, suposto filho do rei Salomão e a soberana etíope conhecida como Rainha de Sabá.
"O que sabemos é que esse tipo de objeto, oriundo dos templos de nações conquistadas, eram levados embora pelos conquistadores", afirma Reimer. Não dá para saber se, por exemplo, o ouro teria sido reaproveitado pelos babilonios, enquanto a Arca em si teria sido destruída. Reimer sugere cautela sobre o excesso de ceticismo nesse aspecto. "A arqueologia já descobriu indícios de objetos considerados lendários antes. Eu não descartaria que uma bela arca dourada fosse encontrada algum dia."
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